A história da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré tem seu início no exterior. Uma guerra que custou à Bolívia o território ao longo do litoral do Oceano Pacífico, fez com que os bolivianos buscassem uma alternativa para exportar a produção de castanha, do caucho e do látex da seringueira. A saída pelo rio Madeira era a opção mais natural e viável, apresentando como fator de dificuldade as 17 corredeiras existentes entre as localidades onde hoje se erguem as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim.
Esforços foram desprendidos em muitos países para tornar a ferrovia possível. Capital inglês, projeto e execução de norte-americanos e mão de obra de todo o mundo, inclusive do Brasil. A construção da ferrovia foi cercada de tropeços jurídicos, suspeita de sobre preço, insinuações de suborno a funcionários públicos brasileiros e, até, trabalho escravo. As milhares de mortes atribuídas às doenças ataques de índios e por execução por parte dos guardas da empresa são outro capítulo trágico nesta história.
A ferrovia foi concluída em 1912 e, pouco depois, entrou em decadência. O preço pago pela borracha colhida nas selvas amazônicas era superior àquela das plantações da Indonésia, com árvores nascidas de sementes contrabandeadas da Amazônia. Os custos de manutenção dos seringais e do frete ferroviário, fluvial e marítimo inviabilizavam o negócio. Logo depois, o “crack” da Bolsa de Nova Iorque agravou a crise.
O controle acionário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré mudou das mãos do chamado Sindicato Farquhar para os financistas ingleses, que não conseguiram sobre erguer a ferrovia. Em 1931 o governo brasileiro assumiu definitivamente o controle da empresa, colocando na sua direção o major Aluízio Pinheiro Ferreira. A situação econômica precária não acabou, tendo o Governo Federal que injetar recursos para o pagamento dos funcionários, para a manutenção da via permanente e do material rodante, além do subsídio para o preço das passagens e do frete de cargas.
Considerada um verdadeiro milagre da Revolução Industrial em plena selva, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi definhando pouco a pouco.
Em 1966 o presidente Castelo Branco assinou decreto extinguindo a velha ferrovia assim que ficasse pronta uma rodovia entre Porto Velho e Guajará-Mirim, substituindo a estrada de ferro.
Em 1982 dois trechos da Ferrovia foram recuperados para fins turísticos. Um ligando Guajará-Mirim ao distrito de Yata e entre Porto Velho e a vila Paulo Leal, na estrada de acesso à vila da Cachoeira de Teotônio.
A Madeira-Mamoré morreu outras vezes e também teve tentativas de ressurreição sucessivas.
Hoje há projetos sob responsabilidade das empresas que constroem as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau para a reativação de pequenos trechos, com fins turísticos.
A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré faz cem anos com todo o peso que a idade trás, especialmente quando o “ancião” centenário teve uma vida devassa e de exageros. Nasceu mal, viveu pior, mas sobrevive na memória das pessoas que viveram a história ou que se interessam por ela.
Publicado no Gente de Opinião - 01/08/2012 (Foto JCarlos / 03112010)
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