Quando li a notícia sobre a morte de D. José, voltei no tempo.
No início dos anos 1990, centenas de menores viviam nas ruas de Porto Velho, furtando, roubando ou simplesmente andando de um lado para outro em busca de comida e de um lugar para dormir. Praticamente sob toda marquise havia três, quatro meninos dormindo em caixas de papelão. A praça Getúlio Vargas era o local de encontro deles, não sei o motivo (um foi morto nos porões do Palácio Presidente Vargas, mas aí é outra história).
Paulinho Correia, editor de "Cidade" do Alto Madeira, preparou então pauta para uma "ampla reportagem", como dizem hoje. Eu fui encarregado por esta matéria especial, que previa ouvir Dom João Batista Costa, que estava bem velhinho e morava em um apartamento no Colégio Dom Bosco. Para falar com ele precisava da autorização do Dom José. Fui bater à porta do Arcebispado, que funcionava na rua Gonçalves Dias, no antigo "Seminário Maior São José".
Pelo interfone me identifiquei e, pouco depois, abre a porta um furioso bispo, que mal ouviu o que eu queria dizer. Foi logo falando: "Dom João está isolado e não sabe de nada que acontece aqui!
- O senhor pode falar, então, sobre esse assunto?
- Vocês [jornalistas] pensam o quê? Por que eu sou bispo, tenho que estar à disposição de vocês, a hora que quiserem? Eu tenho agenda a cumprir. Eu sou um homem público, como o governador e o prefeito. Para falar com eles, não é preciso marcar audiência?" E bateu a porta na minha cara.
Juro por Deus, naquele dia os alicerces da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana sofreram um baque dentro de mim. Cumpri o restante da pauta e narrei este episódio no meu relatório ao editor.
Poucos dias depois, Dom José convocou uma entrevista coletiva - destas que acontecem até hoje -, avisando uma hora antes. O Paulinho Correia fez questão de ir só para dizer ao Dom José que os veículos de comunicação têm agendas, não é só ligar para a redação e chamar para uma entrevista...
Ele entendeu o recado.
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